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Uma história vai se fazendo memória. História familiar.
Nessa 5ª feira, um mês e doze dias após a morte de minha mãezinha, foi-se embora sua irmã mais velha. Aos 99 anos, minha querida tia Carmita partiu tranquila, em casa, durante o sono.
Ela e seu finado marido, tio Guilherme Tolentino, viveram a vida toda na nossa querida Cordisburgo, terra da família. Como eles não tiveram filhos, eu fui um dos que tive o privilégio de ocupar parte desse espaço nas férias e feriados de minha infância e início da adolescência.
Tanto na casa da cidade, como na fazenda Batieiro, vivi momentos inesquecíveis, e convivi, inclusive nos infindos causos do tio, com a vida mágica e encantada do sertão.
Foi na fazenda, recordo-me agora, ao me lembrar do pânico da tia, que por muito pouquinho não desci com as águas de uma enchente súbita no córrego que corria manso nos fundos da casinha gostosa.
Lá, nas noites incrivelmente estreladas, como nunca vi igual, emocionado meu tio apontava para o morro ao lado, por onde se espalhava seu gado branco. Ele dizia que aquelas manchas eram reflexos das estrelas. A tia, pragmática, sempre dizia: - ô, Guilherme, não fica enchendo a cabeça do Paulo Roberto de bobagens...
Aí, ela atacava de café com bolo de fubá (ainda meu ponto fraco), e não sabia como dizer a ela que eu estava aprendendo a ser poeta, com uma energia que agora, quase seis décadas passadas ainda me alimenta e comove.
Tia, você nunca deve ter conseguido imaginar o que era para um menino que não andava, ter um tio que o punha nas costas, de cavalinho, se dizia, e saía andando pelo mundo a fora, longas distâncias, explicando bichos e plantas, parando em casas de compadres, sempre com as clássicas pausas para pitar um paieiro. Vez ou outra, a caminhada era na garupa do cavalo. O tio ensinava o tamanho do mundo para um menino que passara anos de sua vida infantil numa enfermaria de hospital (o da Baleia, ainda lá).
Minha tia, você tinha imensa dificuldade em receber agradecimentos e chamegos, mas você e o tio com certeza sabiam da imensidão de minha gratidão e de meu amor. Meus olhos encantados falavam por mim. Vá em paz, e vê se aceita esse beijo caprichado que eu lhe mando. Amorosamente. Obrigado.
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