Morre Waldemar Sabino de Castro Filho, o Mazico
O Sindicato dos Jornalistas cumpre o doloroso dever de comunicar o falecimento, ocorrido hoje, do seu associado e ex-diretor Waldemar Sabino de Castro Filho. Mazico, como era conhecido pelos amigos, foi durante muitos anos repórter fotográfico da sucursal do Jornal do Brasil em Belo Horizonte. Tinha 74 anos e estava aposentado desde 1999. O enterro será neste sábado, 22/11/14, às 17h, no Cemitério Campo da Saudade, em Lagoa Santa.
Mazico nasceu em Sete Lagoas, no dia 10 de maio de 1940. Antes de se tornar fotógrafo, foi piloto da Aeronáutica. Começou na profissão como estagiário, em 1969. Como repórter fotográfico do Jornal do Brasil, cobriu a Guerra das Malvinas, em 1982. Ele morava em Vespasiano e há algum tempo estava doente, sofrendo do pulmão. É dele a foto que ilustra a notícia sobre a festa de 40 anos da formatura da turma de 1974 de Jornalismo da Fafich, publicada neste portal.
O texto abaixo foi escrito pelo jornalista José de Castro, que durante muitos anos foi chefe da Redação da Sucursal mineira do JB.
Mazico, um grande repórter fotográfico.
José de Souza Castro
Waldemar Sabino de Castro Filho, o Mazico, foi o melhor fotógrafo com quem trabalhei, em mais de 40 anos de profissão. Não era o de melhor técnica, mas o mais arrojado. Não por acaso, pilotava um velho teco-teco, que comprou no ferro-velho, recuperou trabalhando em suas horas de folga no quintal de casa, em Vespasiano. Neste avião, ia e voltava de sua pequena fazenda no Serro, onde plantou café e colheu prejuízos lá pela década de 1980.
Quando entrei como estagiário na sucursal do Jornal do Brasil em Belo Horizonte, em junho de 1972, Mazico era o fotógrafo. Quando saí, em janeiro de 1989, ele continuava lá, e ali permaneceu até mesmo depois do primeiro fechamento da sucursal, em 1993. Ele chegou a ser demitido, mas o jornal teve que readmiti-lo, pois era diretor do Sindicato dos Jornalistas e tinha imunidade. Foi trabalhar com a correspondente do JB, Roselena Nicolau, numa sala alugada, na rua Guajajaras, perto do Mercado Central e do escritório de Acílio Lara Resende, que por mais de 20 anos foi chefe dele na sucursal.
Quando a sucursal foi reaberta, em 1996, Mazico era seu fotógrafo. Só saiu do JB quando se aposentou, após o novo fechamento da sucursal, em 2002. Ele iniciou a carreira de repórter fotográfico em 1966, como frila, e dois anos depois teve sua carteira assinada pelo jornal.
Por muitas vezes, ouvi do editor de fotografia do JB elogios a Mazico. Não me surpreendi quando, entre todos os bons fotógrafos do jornal, ele foi escolhido para cobrir a Guerra das Malvinas, em abril de 1982. Ficou entusiasmadíssimo. E eu muito preocupado, por conhecê-lo bem. E fui entrevistá-lo. Ele estranhou minhas perguntas pessoais e quis saber o motivo. “Vou preparar seu necrológio”, disse, “para o caso de você morrer nessa missão”.
Na guerra morreram mais de 650 soldados argentinos e 250 britânicos. Mazico não conseguiu, em Buenos Aires, permissão para embarcar. Mas publicou muitas fotos. De tropas em treinamento ou embarcando para a guerra e, principalmente, do povo argentino em tempos difíceis.
Em Minas, foram muitos os tempos difíceis, nesses anos todos. Não me esqueço, por exemplo, das enchentes de 1979 e 1980. Mazico, o ex-cabo, tinha boas relações na Aeronáutica, da qual era um saudosista. Ele saía de casa bem cedo, em Vespasiano, e seguia direto em seu próprio carro para a Base Aérea da Pampulha, onde pegava carona num dos aviões da FAB que levavam alimentos e remédios para vítimas das enchentes. E sempre voltava com boas fotos aéreas exclusivas. Enquanto durou o drama das inundações, nossa equipe produziu textos e fotos para preencher, pelo menos, uma página do jornal, diariamente.
Havia também bons tempos, como quando a seleção brasileira treinava na Toca da Raposa, na Pampulha. Mazico cobria os treinamentos e às vezes viajava para fotografar jogos. Numa dessas viagens, o técnico Telê Santana dormiu numa poltrona do aeroporto do Galeão, enquanto esperava o próximo voo da seleção. Mazico fotografou-o de boca aberta, e a foto foi publicada pelo JB. O técnico não escondeu sua irritação. De outra vez, quem ficou irritado com nosso valente fotógrafo foi o editor de fotografia, no Rio. Ele não sabia o que fazer com uma foto de Pelé em nu frontal no vestiário do Mineirão, enviada, por telefoto, pelo Mazico, com a legenda “o rei está nu”.
De outra vez, quando o governador Newton Cardoso foi visitar a Penitenciária de Segurança Máxima de Contagem, na etapa final da construção, Mazico fotografou-o atrás das grades. Segurando-as, como se estivesse preso. Publicada com grande destaque pelo JB, a foto serviu de inspiração para a charge de Millôr Fernandes, no dia seguinte. Naquele tempo, o humorista tinha espaço na página de opinião do JB e Newton gozava de péssima fama.
Mazico não sabia redigir uma reportagem, mas suas fotos valiam por mil palavras. Seu corpo será sepultado neste sábado em Sete Lagoas, mas o espírito irrequieto do grande fotógrafo não será esquecido pelos que o conheceram.
XCXCXCX
ESSA NÃO PODERIA FICAR DE FORA:
Mazico nasceu em Sete Lagoas, no dia 10 de maio de 1940. Antes de se tornar fotógrafo, foi piloto da Aeronáutica. Começou na profissão como estagiário, em 1969. Como repórter fotográfico do Jornal do Brasil, cobriu a Guerra das Malvinas, em 1982. Ele morava em Vespasiano e há algum tempo estava doente, sofrendo do pulmão. É dele a foto que ilustra a notícia sobre a festa de 40 anos da formatura da turma de 1974 de Jornalismo da Fafich, publicada neste portal.
O texto abaixo foi escrito pelo jornalista José de Castro, que durante muitos anos foi chefe da Redação da Sucursal mineira do JB.
Mazico, um grande repórter fotográfico.
José de Souza Castro
Waldemar Sabino de Castro Filho, o Mazico, foi o melhor fotógrafo com quem trabalhei, em mais de 40 anos de profissão. Não era o de melhor técnica, mas o mais arrojado. Não por acaso, pilotava um velho teco-teco, que comprou no ferro-velho, recuperou trabalhando em suas horas de folga no quintal de casa, em Vespasiano. Neste avião, ia e voltava de sua pequena fazenda no Serro, onde plantou café e colheu prejuízos lá pela década de 1980.
Quando entrei como estagiário na sucursal do Jornal do Brasil em Belo Horizonte, em junho de 1972, Mazico era o fotógrafo. Quando saí, em janeiro de 1989, ele continuava lá, e ali permaneceu até mesmo depois do primeiro fechamento da sucursal, em 1993. Ele chegou a ser demitido, mas o jornal teve que readmiti-lo, pois era diretor do Sindicato dos Jornalistas e tinha imunidade. Foi trabalhar com a correspondente do JB, Roselena Nicolau, numa sala alugada, na rua Guajajaras, perto do Mercado Central e do escritório de Acílio Lara Resende, que por mais de 20 anos foi chefe dele na sucursal.
Quando a sucursal foi reaberta, em 1996, Mazico era seu fotógrafo. Só saiu do JB quando se aposentou, após o novo fechamento da sucursal, em 2002. Ele iniciou a carreira de repórter fotográfico em 1966, como frila, e dois anos depois teve sua carteira assinada pelo jornal.
Por muitas vezes, ouvi do editor de fotografia do JB elogios a Mazico. Não me surpreendi quando, entre todos os bons fotógrafos do jornal, ele foi escolhido para cobrir a Guerra das Malvinas, em abril de 1982. Ficou entusiasmadíssimo. E eu muito preocupado, por conhecê-lo bem. E fui entrevistá-lo. Ele estranhou minhas perguntas pessoais e quis saber o motivo. “Vou preparar seu necrológio”, disse, “para o caso de você morrer nessa missão”.
Na guerra morreram mais de 650 soldados argentinos e 250 britânicos. Mazico não conseguiu, em Buenos Aires, permissão para embarcar. Mas publicou muitas fotos. De tropas em treinamento ou embarcando para a guerra e, principalmente, do povo argentino em tempos difíceis.
Em Minas, foram muitos os tempos difíceis, nesses anos todos. Não me esqueço, por exemplo, das enchentes de 1979 e 1980. Mazico, o ex-cabo, tinha boas relações na Aeronáutica, da qual era um saudosista. Ele saía de casa bem cedo, em Vespasiano, e seguia direto em seu próprio carro para a Base Aérea da Pampulha, onde pegava carona num dos aviões da FAB que levavam alimentos e remédios para vítimas das enchentes. E sempre voltava com boas fotos aéreas exclusivas. Enquanto durou o drama das inundações, nossa equipe produziu textos e fotos para preencher, pelo menos, uma página do jornal, diariamente.
Havia também bons tempos, como quando a seleção brasileira treinava na Toca da Raposa, na Pampulha. Mazico cobria os treinamentos e às vezes viajava para fotografar jogos. Numa dessas viagens, o técnico Telê Santana dormiu numa poltrona do aeroporto do Galeão, enquanto esperava o próximo voo da seleção. Mazico fotografou-o de boca aberta, e a foto foi publicada pelo JB. O técnico não escondeu sua irritação. De outra vez, quem ficou irritado com nosso valente fotógrafo foi o editor de fotografia, no Rio. Ele não sabia o que fazer com uma foto de Pelé em nu frontal no vestiário do Mineirão, enviada, por telefoto, pelo Mazico, com a legenda “o rei está nu”.
De outra vez, quando o governador Newton Cardoso foi visitar a Penitenciária de Segurança Máxima de Contagem, na etapa final da construção, Mazico fotografou-o atrás das grades. Segurando-as, como se estivesse preso. Publicada com grande destaque pelo JB, a foto serviu de inspiração para a charge de Millôr Fernandes, no dia seguinte. Naquele tempo, o humorista tinha espaço na página de opinião do JB e Newton gozava de péssima fama.
Mazico não sabia redigir uma reportagem, mas suas fotos valiam por mil palavras. Seu corpo será sepultado neste sábado em Sete Lagoas, mas o espírito irrequieto do grande fotógrafo não será esquecido pelos que o conheceram.
XCXCXCX
ESSA NÃO PODERIA FICAR DE FORA:
- José Alves Causos do Mazico: certa vez, viajando pela região do Alto Paranaíba : Mazico, o motorista Jose Evangelista e eu, quando a gasolina da rural acaba. Mazico não se deu por vencido, numa estrada de terra, longe de posto de combustível, esperou o primeiro carro que passasse e deu sinal para parar. Era uma senhora. Ele muito cortês pediu a ela um pouco de gasolina. A Senhora também muito gentil, se fez pronto a atender o pedido, porém, disse que não possuía uma mangueira e um galão para a retirada da gasolina. Mazico na sua loucura foi ate à rural, buscou uma mangueira, pegou a bolsa da mulher, esvaziou a sobre o banco e com uma forte chupada na mangueira encheu a bolsa de gasolina e colocou no tanque da rural. Depois de perguntar quanto teria que pagar, o que a mulher se recusou, disse a ela: não se preocupe minha senhora daqui à pouco a gasolina seca e o cheiro na bolsa desaparece.
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