quinta-feira, 9 de junho de 2022

ADEUS, MEU IRMÃO

 


[10/06/2022] -- Gloria Moyle Escritora: Naquela época não tínhamos   celulares senão eu poderia postar agora fotos e vídeos das nossas andanças por aí. 

Das nossas saídas lá da Rua Gabro por volta de onze horas, meia noite para ir ao Kibe Lanche.

A gente não tinha hora para sair e nem para chegar.

Gabro/Clorita/Cristal/Hermílio Alves/Contorno! Tocantins (hoje Assis Chateaubriand) /Viaduto Santa Tereza... Era o nosso itinerário de sempre.

Mais alguns quarteirões e estávamos nos deliciando com uma das nossas guloseimas preferidas, que era o quibe cru e jogando conversa fora ao som de boas gargalhadas.

Às vezes éramos somente eu, você e o Tonho (os três mosqueteiros) e, em algumas outras ocasiões,  na companhia de algum ou de alguns amigos aventureiros que se juntavam a nós para vagar pela madrugada a fora.

De presença feminina mesmo, eu era a única.

O trajeto era todo feito a pé porque naquela época ninguém tinha carro, não havia Uber, 99 ou qualquer outro aplicativo. Táxi? Estava muito além das nossas posses. Rsrs

Para custear essa farra isso deveria ser inconfessável mas… como não dizer?

A gente escolhia, entre os nossos carnês, qual a prestação seria deixada para ser paga no mês seguinte. (Vergonhoso? Nada! Era divertidíssimo!)

Naquela época a gente podia fazer isso e dava conta de pagar com atraso. Será que daria para fazer isso hoje?

Quando não tínhamos dinheiro, divertíamos com as horas dançantes e isso era quase todos os finais de semana ora em nossa casa, ora na casa dos amigos.

Nossa bebida preferida era o ponche, uma bebida preparada com frutas picadinhas mergulhadas numa mistura de espumante com Martini ou vinho e guaraná ou soda. Huuummmm...

Quantas vezes você e o Tonho tomavam conhecimento do baile de última hora e iam em casa me tirar da cama para acompanhá-los? Enquanto eu não me levantava e trocava de roupas vocês não arredavam o pé!

O pior é que... eu ia e gostava.

Se alguém ficou curioso em descobrir que época era essa eu vou dar algumas dicas:

A gente bailava ao som de Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis  Os Vips, Os Mutantes, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jerry Adriani, cantores estrangeiros como Demis Roussos, Beatles, músicas orquestradas com Poly sua guitarra e seu conjunto - rodopiamos muito ao som de Moendo Café  e muitos outros. São dicas perfeitas para a identificação da época entre os anos 60/70.

E tinha, ainda, as nossas noites de jogatina quando começávamos a jogar buraco no início da noite e só parávamos no dia seguinte,  manhã quase adentrando à tarde e, se não é mamãe espalhar todas as cartas, provavelmente seríamos capazes de virar mais uma noite...

Imagine se eu tivesse um celular para guardar esses e todos os outros momentos, sempre bons e alegres que juntos compartilhamos  nesta vida, provavelmente essas lembranças estariam perdidas juntos aos aparelhos que me foram roubados, com os que eu  perdi e com os que não resistiram ao tempo de uso.

Ainda bem que todas as recordações estão gravadas em minha mente e guardadas com muito carinho no meu coração  porque, mesmo com as vistas turvas pelas lagrimas, consigo vê-lo se abrindo sorridente para me mostrar o quanto somos imortais. Que a morte não separa aqueles que a vida uniu. Não somos filhos do mesmo esperma, mas somos filhos do mesmo útero e foi o bastante para que houvesse tantas afinidades entre nós. 

Hoje você está indo só.  Foi resgatado pelos anjos para ir de volta à sua origem e se encontrar com os nossos amigos e familiares que o antecederam. Que Nossa Senhora do Pilar, sua madrinha, e eu não conheço outra pessoa que teve esse privilégio  de ter uma Santa como madrinha de batismo, te acompanhe e ilumine o seu caminho.

Vá programando as nossas aventuras futuras, pois na certa temos um encontro marcado no Além. 

Te amo irmão.

E, para não perder o costume: vá com Deus!

                                                                                                                              [10/06/2022]