O adeus a Inezita e a lembrança de Zé Rico
Em sete dias, a música caipira do Brasil perdeu dois de seus maiores ícones. No dia três um infarto levou Zé Rico. Ontem foi a vez de Inezita Barroso, insuficiência respiratória aguda. Tinha completado 90 anos de idade há cinco dias. Por mais de três décadas comandou o programa caipira e/ou sertanejo do Brasil, o “Viola Minha Viola” pela TV Cultura – estado em que era um dos líderes de audiência nas manhãs de domingo. Sobre Zé Rico, quem escreve é Glória Metzker.
Inezita Barrozo
Inezita Barroso
Mais uma bela voz se cala, pelo menos neste nosso plano
A primeira vez que vi Milionário & José Rico foi numa exposição
Zé Rico
Zé Rico
agropecuária, em Montes Claros (MG), onde produzia várias reportagens. A convite do então deputado estadual, Antônio Soares Dias, eu e a equipe fomos assistir ao show deles na noite de abertura. Ficamos perto do palco e enquanto o público delirava com as canções da dupla de maior sucesso na época, em todo o país, eu observava a força das vozes daqueles homens simples que pareciam cantar com a alma.Lembro-me que na primeira música, senti um arrepio forte, que só havia sentido durante a apresentação de uma orquestra no Palácio das Artes, com solo da soprano Maria Lúcia Godoy;e também em um concerto no Parque Municipal, onde o maestro Eduardo Prates encantava o público regendo magnificamente a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.                                                                                                                          A  voz aguda de José rico, soava em dueto com a do companheiro em uma harmonia de fazer inveja a muitas duplas de hoje que se dizem sertanejas. E eu me convencia de que a música não tem fronteiras. A clássica e a sertaneja autêntica se parecem muito. Lembrei-me do meu colega jornalista Leopoldo José de Oliveira, que me ensinou a apreciar a música então chamada de caipira.                                                                                                                                    O show terminou com o maior sucesso deles na época: Estrada da Vida. A última estrofe diz: “...mas o tempo cercou minha estrada, e o cansaço me dominou. Minhas vistas se escureceram e o final desta vida chegou”.Chegou para José Rico. Ele foi juntar-se a outros como Barreirito, João Mineiro, Pena Branca e Xavantinho. Juntos, enriquecem o coral de anjos celestes, cantando para Deus que, certamente, também é sertanejo.                                                                                                                                                    *Glória Metzker é jornalista e bacharel em Direito